No início desse mês de Setembro, estive em Paris, na França, participando do maior congresso mundial de Cardiologia, o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia - ESC, que aconteceu em conjunto com o Congresso Mundial de Cardiologia.



  

  Na ocasião, diversas novidades foram apresentadas, incluindo alguns estudos que estavam sendo aguardados com entusiasmo pela comunidade cientifica e as sempre esperadas diretrizes - “Guidelines”


ESC GUIDELINES 2019

    Cinco novas diretrizes foram apresentadas ao longo dos cinco dias de congresso; são elas que orientam as condutas médicas de uma maneira geral e são sempre muito aguardadas anualmente devido ao grande impacto como diretrizes de conduta.

Foram elas:


  • Dislipidemias: trouxeram novos algoritmos para estratificação do risco cardiovascular, intensificaram as metas de tratamento de LDL-c de acordo com o risco CV (aproximando-se dos valores contemplados pela diretriz brasileira da SBC) e reforçando a indicação do uso de inibidores do PCSK9 em pacientes que estão fora da meta do LDL-c apesar da terapia otimizada com estatina e ezetimiba - IIb em prevenção primária em pacientes de muito alto risco e IC em pacientes portadores de hipercolesterolemia familiar.

Obs: tomar muito cuidado ao utilizar as calculadoras de estimativa de risco CV - lembrando que aprevalência de doença cardiovasculares em países desenvolvidos têm reduzido expressivamente (o que não tem acontecido com nossa população) e com isso a estimativa de risco pode ser subestimada.


  • Síndrome coronariana crônica: já através do nome ela busca nos trazer um novo conceito - abandonando o termo “Doença coronariana estável”, ela passa a mensagem de que a doença coronária é um processo dinâmico e que pode não estar tão “estável” quanto podemos imaginar. Também é uma diretriz que sofre influencia da redução de prevalência de DAC na população europeia, então sua interpretação deve ser criteriosa. No diagnostico, ela deixa de recomendar o teste ergométrico como primeiro exame diagnóstico e passa a recomendar mais fortemente o uso de angiotomografia de coronárias como exame para investigação de doença coronariana em pacientes sintomáticos com baixa-intermediária probabilidade pré-teste. 


  • Diabetes: mudanças importantes no tratamento da diabetes vem sido observadas ao longo dos últimos anos com o surgimento de novos hipoglicemiantes orais e estudos mostrando benefícios cardiovasculares além do controle glicêmico. Com base nesses estudos, a ESC passa a recomendar os inibidores do SGLT2 e agonistas do receptor GLP-1 como fármacos de primeira linha no tratamento de pacientes diabéticos portadores de doença cardiovascular ou em alto/muito alto risco de eventos futuros. O tema tem sido motivo de discussão entre cardiologistas e endocrinologistas, sempre buscando as melhores drogas e os melhores alvos nos pacientes portadores de Diabetes.


  • Tromboembolismo pulmonar agudo: trouxe os novos anticoagulantes orais como droga de preferência no tratamento do tromboembolismo pulmonar agudo com grau de recomendação I e uso de edoxabana e rivaroxabana como alternativa à heparina de baixo peso molecular no tratamento de TEP em pacientes portadores de câncer não gastrointestinais com grau de recomendação IIa.


  • Arritmias supraventriculares: uma importante limitação da aplicabilidade dessa diretriz no dia-a-dia do Brasil é que alguns dos fármacos antiarrítmicos recomendados não são comercializados em nosso país. Em relação ao tratamento intervencionista, reforça a indicação de ablação por cateter como primeira escolha para tratamento de arritmias por reentrada nodal ou via acessória.


    Não bastasse a alegria em poder presenciar a apresentação das diretrizes em primeira mão, pude ainda participar e prestigiar a apresentação de um caso clínico na sessão de miocardiopatias, formulado em conjunto com meus ex-colegas de residência do Instituto Dante Pazzanese e do setor de Miocardiopatias, que foi muito bem apresentado pela Dra. Larissa Ventura, staff do setor de miocardiopatias do IDPC e também grande amiga.


     


    Voltamos com muito conhecimento adquirido e prontos para aplicar em nossa prática clínica, sempre buscando o bem estar e saúde dos nossos pacientes.


Aline.



Referências:


- François Mach et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk: The Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and European Atherosclerosis Society (EAS), European Heart Journal, ehz455.


- Juhani Knuuti et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes: The Task Force for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes of the European Society of Cardiology (ESC), European Heart Journal, ehz425


- Josep Brugada et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the management of patients with supraventricular tachycardia. The Task Force for the management of patients with supraventricular tachycardia of the European Society of Cardiology (ESC): Developed in collaboration with the Association for European Paediatric and Congenital Cardiology (AEPC), European Heart Journal, ehz467


- Francesco Cosentino et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines on diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases developed in collaboration with the EASD: The Task Force for diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Association for the Study of Diabetes (EASD), European Heart Journal, ehz486,


- Stavros V Konstantinides et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism developed in collaboration with the European Respiratory Society (ERS): The Task Force for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism of the European Society of Cardiology (ESC), European Heart Journal, ehz405