Pressão alta, e agora?

4 agosto, 2021

    A pressão alta é uma das queixas mais frequentes em um consultório de cardiologia. Muitos paciente procuram atendimento por terem sintomas que relacionam ao aumento da pressão ou por medidas ao acaso mostrando valores elevados da pressão.  Esse dado não nos surpreende, visto que a hipertensão arterial tem uma prevalência em torno de 30% na população geral (ou seja, a cada 100 pessoas, 30 delas possuem o diagnóstico de hipertensão arterial). Apesar da grande frequência, existem muitas dúvidas em relação a esse tema e vamos conversar sobre algumas delas hoje.

    Antes de mais nada, gosto de explicar aos pacientes que a pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e é composta por dois valores: o primeiro valor (conhecido como "pressão mais alta") é a pressão arterial sistólica e o segundo valor ("pressão mais baixa") é chamado de pressão diastólica. Então quando nos referimos ao valor, por exemplo, de 12 x 8mmHg (ou 120x80mmHg), o valor 12  (ou 120) corresponde à pressão sistólica e o valor 8 (ou 80) corresponde à pressão diastólica.

    Vamos tirar algumas dúvidas?


1. Quais os valores ideais de pressão arterial?

A pressão arterial considerada "ótima" é aquela menor que 120x80mmHg, porém pela Diretriz Brasileira de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a pressão arterial é considerada normal até 129/85 mmHg. Valores acima desses números podem corresponder a hipertensão arterial.

2. A pressão arterial fica sempre em um valor constante?

Não. A pressão arterial sofre variações ao longo do dia conforme nossas atividades diárias. Costumo dizer que a pressão arterial "responde" a quase tudo que fazemos ao longo dia. São fatores que podem influenciar nessas oscilações: alimentação, consumo de sal e bebidas alcoólicas, atividade física, dificuldade no sono, frio, estresse emocional, ansiedade e muitos outros fatores.

3. Medi minha pressão e estava 140x90mmHg. Sou hipertenso?

Talvez. Dificilmente conseguimos fazer o diagnóstico de hipertensão arterial com uma medida isolada da pressão em consulta (exceto quando nos deparamos por valores muito elevados de pressão). O ideal é que o diagnóstico seja feito ao longo do acompanhamento médico, com medida em mais de uma consulta ou então com a realização de exames de monitorização da pressão fora do consultório, como o MAPA.

4. Fui diagnosticado com hipertensão. Precisarei tomar remédios?

Depende do grau de hipertensão. Pacientes hipertensos leves devem ser encorajados e ensinados a modificar hábitos de vida (realizar atividade física regular, parar de fumar, perda de peso quando sobrepeso ou obesidade, controle do consumo de sal e bebidas alcoólicas). Em alguns casos, a realização de medidas não-farmacológicas são suficientes para manter o adequado controle pressórico. Em casos de dificuldade no controle ou valores muito elevados de pressão, provavelmente será preciso o uso de medicamentos.

5. Toda hipertensão possui a mesma causa?

Não. A causa mais comum de pressão alta é a hipertensão essencial ou idiopática. Isso significa que a hipertensão é um distúrbio primário da regulação do próprio corpo e surge com maior frequência com o aumento da idade e quando há história familiar de hipertensão na família. Porém, em casos mais raros, a pressão alta pode ser secundária a outros problemas de saúde, como doenças dos rins, da tireóide e da glândula suprarrenal. Nesses casos, o controle da doença de base pode melhorar a até mesmo normalizar os níveis da pressão arterial.

6. A hipertensão tem cura?

Costumamos dizer que a hipertensão não tem cura, mas tem controle. Com o acompanhamento médico regular e orientações farmacológicas e não-farmacológicas adequadas, na grande maioria dos casos conseguimos manter o níveis de pressão arterial em valores ideias e com isso, prevenir as complicações à longo prazo relacionados a essa doença. 

7. Tenho pressão alta e não sinto nada. Quais problemas isso pode me causar?

A hipertensão é uma doença silenciosa e na maioria das vezes não gera sintomas. Ao longo dos anos, pode levar a problemas cardíacos como aumento do risco de infarto, de arritmias e de insuficiência cardíaca. Aumenta também o risco de doenças neurológicas como AVC e demência. Além disso, acomete rins, fundo do olho (retina) e vasos sanguíneos em diversas partes do corpo. O tratamento adequado previne o surgimento dessas complicações e melhora a qualidade de vida.


Espero que esse post tenha te ajudado a esclarecer as dúvidas mais frequentes.

Tem mais alguma pergunta sobre hipertensão? Me manda no e-mail: contato@draalinecardio.com.br.

Cuidem-se bem!


Aline


Fonte: Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020 / Sociedade Brasileira de Cardiologia

 

ESC 2019 & World Congress of Cardiology

23 setembro, 2019


    

    No início desse mês de Setembro, estive em Paris, na França, participando do maior congresso mundial de Cardiologia, o Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia - ESC, que aconteceu em conjunto com o Congresso Mundial de Cardiologia.



  

  Na ocasião, diversas novidades foram apresentadas, incluindo alguns estudos que estavam sendo aguardados com entusiasmo pela comunidade cientifica e as sempre esperadas diretrizes - “Guidelines”


ESC GUIDELINES 2019

    Cinco novas diretrizes foram apresentadas ao longo dos cinco dias de congresso; são elas que orientam as condutas médicas de uma maneira geral e são sempre muito aguardadas anualmente devido ao grande impacto como diretrizes de conduta.

Foram elas:


  • Dislipidemias: trouxeram novos algoritmos para estratificação do risco cardiovascular, intensificaram as metas de tratamento de LDL-c de acordo com o risco CV (aproximando-se dos valores contemplados pela diretriz brasileira da SBC) e reforçando a indicação do uso de inibidores do PCSK9 em pacientes que estão fora da meta do LDL-c apesar da terapia otimizada com estatina e ezetimiba - IIb em prevenção primária em pacientes de muito alto risco e IC em pacientes portadores de hipercolesterolemia familiar.

Obs: tomar muito cuidado ao utilizar as calculadoras de estimativa de risco CV - lembrando que aprevalência de doença cardiovasculares em países desenvolvidos têm reduzido expressivamente (o que não tem acontecido com nossa população) e com isso a estimativa de risco pode ser subestimada.


  • Síndrome coronariana crônica: já através do nome ela busca nos trazer um novo conceito - abandonando o termo “Doença coronariana estável”, ela passa a mensagem de que a doença coronária é um processo dinâmico e que pode não estar tão “estável” quanto podemos imaginar. Também é uma diretriz que sofre influencia da redução de prevalência de DAC na população europeia, então sua interpretação deve ser criteriosa. No diagnostico, ela deixa de recomendar o teste ergométrico como primeiro exame diagnóstico e passa a recomendar mais fortemente o uso de angiotomografia de coronárias como exame para investigação de doença coronariana em pacientes sintomáticos com baixa-intermediária probabilidade pré-teste. 


  • Diabetes: mudanças importantes no tratamento da diabetes vem sido observadas ao longo dos últimos anos com o surgimento de novos hipoglicemiantes orais e estudos mostrando benefícios cardiovasculares além do controle glicêmico. Com base nesses estudos, a ESC passa a recomendar os inibidores do SGLT2 e agonistas do receptor GLP-1 como fármacos de primeira linha no tratamento de pacientes diabéticos portadores de doença cardiovascular ou em alto/muito alto risco de eventos futuros. O tema tem sido motivo de discussão entre cardiologistas e endocrinologistas, sempre buscando as melhores drogas e os melhores alvos nos pacientes portadores de Diabetes.


  • Tromboembolismo pulmonar agudo: trouxe os novos anticoagulantes orais como droga de preferência no tratamento do tromboembolismo pulmonar agudo com grau de recomendação I e uso de edoxabana e rivaroxabana como alternativa à heparina de baixo peso molecular no tratamento de TEP em pacientes portadores de câncer não gastrointestinais com grau de recomendação IIa.


  • Arritmias supraventriculares: uma importante limitação da aplicabilidade dessa diretriz no dia-a-dia do Brasil é que alguns dos fármacos antiarrítmicos recomendados não são comercializados em nosso país. Em relação ao tratamento intervencionista, reforça a indicação de ablação por cateter como primeira escolha para tratamento de arritmias por reentrada nodal ou via acessória.


    Não bastasse a alegria em poder presenciar a apresentação das diretrizes em primeira mão, pude ainda participar e prestigiar a apresentação de um caso clínico na sessão de miocardiopatias, formulado em conjunto com meus ex-colegas de residência do Instituto Dante Pazzanese e do setor de Miocardiopatias, que foi muito bem apresentado pela Dra. Larissa Ventura, staff do setor de miocardiopatias do IDPC e também grande amiga.


     


    Voltamos com muito conhecimento adquirido e prontos para aplicar em nossa prática clínica, sempre buscando o bem estar e saúde dos nossos pacientes.


Aline.



Referências:


- François Mach et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk: The Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and European Atherosclerosis Society (EAS), European Heart Journal, ehz455.


- Juhani Knuuti et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes: The Task Force for the diagnosis and management of chronic coronary syndromes of the European Society of Cardiology (ESC), European Heart Journal, ehz425


- Josep Brugada et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the management of patients with supraventricular tachycardia. The Task Force for the management of patients with supraventricular tachycardia of the European Society of Cardiology (ESC): Developed in collaboration with the Association for European Paediatric and Congenital Cardiology (AEPC), European Heart Journal, ehz467


- Francesco Cosentino et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines on diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases developed in collaboration with the EASD: The Task Force for diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Association for the Study of Diabetes (EASD), European Heart Journal, ehz486,


- Stavros V Konstantinides et. al, ESC Scientific Document Group, 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism developed in collaboration with the European Respiratory Society (ERS): The Task Force for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism of the European Society of Cardiology (ESC), European Heart Journal, ehz405





 

Apresentação

18 setembro, 2019
   
         "A Medicina precisa ser exercida com a mente e o coração"       
                                                                                                  Celmo Celeno Porto          



Sejam bem-vindos, queridos pacientes e amigos! 

Nesse espaço, poderemos trocar ideias sobre temas relacionados à saúde do coração e do corpo como um todo.

 
  Meu nome é Aline Rosa Machado, sou graduada em Medicina pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, tenho residência de Clínica
  Médica pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição em Porto Alegre/RS e residência em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese de
  Cardiologia em São Paulo/SP.


Como cardiologista, atuo na prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças cardiovasculares e seus fatores de risco.

Dentre as patologias mais comumente abordadas, encontram-se:
  • Hipertensão arterial
  • Dislipidemias - colesterol alto
  • Angina e Infarto do miocárdio
  • Doenças valvares
  • Arritmias
  • Insuficiência cardíaca - “coração dilatado”

É papel do cardiologista também:
  • Realização de avaliação clínica pré-operatório, para identificar possíveis riscos durante e após a cirurgia e agir para minimiza-los;
  • Auxiliar na cessação do tabagismo através de medidas farmacológicas e não farmacológicas;
  • Avaliação clínica global e auxílio no tratamento da obesidade
  • Avaliação médica para participação de atividades físicas recreativas ou esportivas
  • Atuar como incentivador de hábitos de vida saudáveis de uma maneira ampla e global

Uma área de crescente estudo na Cardiologia e que muito me interessa é a Cardiologia da Mulher, que busca uma abordagem individualizada às patologias cardiovasculares nas mulheres, com enfoque em fatores relacionado ao universo feminino que podem interferir no diagnóstico, evolução e no tratamento das doenças cardiovasculares na mulher em suas diversas fases da vida, inclusive na gestação.

Ao longo do tempo, irei compartilhar com vocês um pouco sobre assuntos relacionado à Cardiologia.
Tem dúvida sobre algum assunto ou gostaria de ver algum tema por aqui? Podem mandar e-mail com dúvidas e sugestões para contato@draalinecardio.com.br , será um prazer compartilhar esse espaço com vocês!

Um forte abraço,

Aline.